quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Jornalismo Popular: fortalecimento da cidadania

MARQUES DE MELO, José. Teoria do jornalismo: identidades brasileiras. São Paulo: Paulus, 2006.

p. 125
Cap. 9 Jornalismo comunitário: fortalecimento da cidadania
p.126
“Será que esse conceito pode merecer aceitação tranquila, no caso brasileiro? Constituem modalidades de imprensa comunitária todas as espécies discriminadas [a imprensa de bairros, a imprensa do interior, a imprensa negra, a imprensa religiosa e a imprensa de imigrantes]?

Receamos que não. E ao tomar tal posição nos alicerçamos na idéia de que a imprensa comunitária deve ser ao mesmo tempo o veículo aglutinador e o porta-voz de um grupo de indivíduos conscientemente organizados (não importando se essa organização assume uma natureza geográfica, econômica, institucional ou ideológica).

Em outras palavras, uma imprensa só pode ser considerada comunitária, quando se estrutura e funciona como meio de comunicação autêntico de uma comunidade. Isso significa dizer produzido pela e para a comunidade.”

Jornais de bairro
p. 126-127
“Será que a imprensa de bairros, em nosso país, é uma imprensa comunitária?
(...)
Acreditamos que não. Pois, além do fator geográfico, que aproxima os indivíduos ali inseridos, não existe uma ação social coletiva que os aglutine, que os identifique. Será que a leitura de um jornal editado naquela área e para ela dirigido não cumpriria esse papel aglutinador? Também acreditamos que não, pois tais veículos não são frutos da ação daquele grupo social e nem mesmo conseguem gerar uma ação orgânica na população ou uma consciência social em torno do espaço que cobrem. São veículos produzidos para o bairro e não pelo bairro. São canais de comunicação que operam de fora para dentro, quase sempre atendendo interesses que não coincidem com os daquele agrupamento humano espacialmente localizado.”

Ausência de vida comunitária
p. 130-131
“Defendemos, portanto, a tese de que a imprensa comunitária lamentavelmente não encontrou condições para se desenvolver em nosso país.
(...)
As raízes desse fenômeno estão nos elementos que marcam a estrutura sociocultural do país: analfabetismo do nosso povo, mais afeito à comunicação oral que à comunicação impressa; o autoritarismo político, que tem sido uma constante em nossa história, impedindo ou dificultando a mobilização e a participação dos cidadãos na condução dos destinos nacionais; a concentração de renda nas mãos de uma elite burguesa e pequeno-burguesa, que marginaliza vastos setores da população do consumo de produtos industrializados, incluindo o das mercadorias culturais. E assim por diante.
(...)
Deve-se considerar, sobretudo, o fato de que inexiste vida comunitária no país, pelo menos no que se refere às áreas urbanizadas e alfabetizadas, pois a nossa estrutura política, autoritária e desmobilizadora, não tem permitido a disseminação dos ideais democráticos, indispensáveis a qualquer aglutinação comunitária.
Talvez as experiências propriamente comunitárias no Brasil (além das sociedades tribais, isoladas da sociedade nacional) sejam aquelas que encontram na miséria um fator de aglutinação: nas favelas das grandes cidades e nos povoados das áreas rurais, constituídas respectivamente por migrantes e imigrantes potenciais. Mas nessas comunidades, a imprensa não tem qualquer função, pelo analfabetismo dominante e pelo pauperismo econômico.”

Concordo com a primeira parte deste último parágrafo, mas discordo do final. Nas favelas, que podem ser consideradas comunidades em potencial, a imprensa tem função sim, apesar do analfabetismo e do pauperismo.

Romper a incomunicaçao
p. 132
“Essa luta implica no rompimento do atomismo que é responsável pela desmobilização da nossa sociedade e que tem facilitado a dominação exercida pelas elites autoritárias, daqui e dalém mar. Para tanto, é necessário superar o estágio de incomunicação em que vive o nosso povo, seja pelo seu isolamento em relação aos centros de decisão, seja pelo conformismo gerado pelos próprios meios de comunicação de massa, habilmente manipulados pela classe dominante.”

Construindo comunidades
p. 133
“Precisamos de meios capazes de romper a atmosfera compacta da incomunicação produzida por jornais, rádios e tevês. Esses folhetos, pequenos jornais ou comunicados, só chegam a ser verdadeira comunicação, caso se tornem conviviais. Caso provoquem convívio. Se conseguirem transmitir vida que desperte nova vida. Se chegarem a tocar pontos de interesse vital e comunitário. Se colocarem o homem no centro de suas comunicações.” (apud ARNS, Paulo Evaristo)