terça-feira, 16 de setembro de 2008

Que Comunicação Comunitária?

(Artigo escrito em fevereiro de 2005!)
Este texto pretende provocar quem pensa e faz ou quem pensa que faz comunicação comunitária. De modo mais simpático, pretende ser um convite ao debate em torno das características, práticas e limites deste tema, carinhosamente apelidado de ComCom por alguns.

Comecei a trabalhar com oficinas de Comunicação Comunitária em outubro de 2002, quando passeia a trabalhar na Equipe de Atividades do Programa de Inclusão Digital da Prefeitura de São Paulo, também conhecido como Projeto Telecentros. Em pouco mais de seis meses pude participar de três eventos ligados a ComCom. Cada um deles foi organizado em lugares diferentes, por grupos diferentes e para públicos diferentes. Consegui participar de todos graças à minha teimosia, ao empréstimo do banco e à insistência do coordenador da minha equipe. O resultado foi que essas iniciativas contribuíram para clarear algumas das minhas idéias e deram um grande empurrão para novos e não tão novos projetos em ComCom.

De lá pra cá, muita gente se envolveu nesta questão, principalmente, jovens de todos os cantos da cidade e de todos os níveis sociais. Estudantes do ensino fundamental, médio e superior, empregados ou não, do Grajaú e de Pinheiros. Recém formados e já formados há algum tempo. Sem carro, sem bicicleta, com carro, com dois ou três ou mais carros. São pessoas de realidades diferentes tentando fazer a mesma coisa. Mesma coisa??? Será?

Para mim a comunicação verdadeiramente Comunitária começa a ficar mais concreta. Primeiramente, ela precisa representar uma comunidade. Não importa o fator comum que aglutina as pessoas nessa comunidade, mas ele precisa existir. Uma causa, um ideal, um lugar, não importa. Se não houver uma comunidade, não dá para fazer comunicação comunitária.

Se existe esta comunidade, a comunicação mais eficiente e mais legítima para ela só pode ser feita por ela mesma. Eficiente porque é feita por gente que vive o assunto a ser tratado e sabe a melhor forma de tratá-lo. E legítima porque, sabendo utilizar os meios mais adequados de se comunicar com seus iguais, os integrantes de uma comunidade podem alimentar uma comunicação sem depender de alguém externo a essa comunidade. Portanto, para ser comunitária, a comunicação tem que ser feita pela comunidade.

E quando digo “ser feita pela comunidade” tento ser compreendida literalmente. Isto é, a possibilidade de participação de toda a comunidade num processo de uma comunicação comunitária precisa ser garantida. Não adianta um pequeno grupo dominar os meios de comunicação e fazer do resto da comunidade uma grande receptora passiva de conteúdo.

Acredito que sempre haverá um grupo mais interessado em tocar os projetos de comunicação e que nem todo mundo é comunicativo ou sente prazer em expor suas idéias e compartilhar informações. Porém, por mais representativo que seja este grupo, se ele não se preocupar em inserir outros membros da comunidade como produtores de conteúdo, a comunicação não será de fato comunitária.

Além disso, só se pratica comunicação se o que se quer comunicar é recebido por alguém. Senão é só expressão. Comunicação comunitária não pode ser uma prática importante apenas para quem faz. Tem que ter ouvinte, leitor ou telespectador. E aqui talvez esteja o maior desafio de quem faz ComCom na Internet e que tenha como público uma comunidade que não é virtual e, pior, não possui computador em casa. Como fazer para que os sites (que ainda podem ser construídos gratuitamente) cheguem até seus leitores? Se não chegar, pode até ser um trabalho comunitário, mas não é comunicação.

Outro grande desafio dos projetos em comunicação comunitária é a sustentabilidade. Quem banca? Anúncios de comerciantes locais, doações, vereadores, assinaturas, empresas patrocinadoras, governo. É muito difícil, mas existem diversas maneiras de se conseguir recursos para concretizar um projeto de comunicação. No entanto, para que o projeto não perca seu caráter comunitário, precisamos estar atentos à origem dos recursos que estão viabilizando esta comunicação. Por mais bem intencionado e ético que seja um veículo de comunicação comunitária é coerente ele ser patrocinado por um vereador corrupto, por exemplo?

Por outro lado, a falta de recursos financeiros não pode justificar a não realização de um projeto de ComCom. A comunidade deve estar disposta a encontrar um meio de comunicação que for economicamente viável. Se não der para construir uma rádio comunitária, que tal um jornal? Se jornal é caro, que tal um fanzine? Fanzine ainda não dá, por que não um mural (com folhas de sulfite coladas na parede)? É preciso ser criativo.

Por último, acredito que não se pode confundir comunicação comunitária com comunicação livre. Comunicação comunitária precisar ser responsável, isto é, precisa arcar com as conseqüências das informações que difunde e, principalmente, deve ser comprometida com o desenvolvimento social da comunidade. A comunicação livre é totalmente livre.

Para mim, esses são alguns princípios de uma comunicação verdadeiramente comunitária. Ainda não vi nenhuma experiência em ComCom que conjugue todos esses fatores.

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